domingo, 7 de agosto de 2016

As runas indecifráveis de uma essência


Quando eu morrer, quero ser lembrada... todos querem ser lembrados, apesar de alguns não admitirem que precisam fazer alguma coisa para serem lembrados.
Quero ser lembrada como a garota que escrevia, a garota que contava histórias. Aquela que deixava as histórias brotarem em sua alma. Apesar de algumas não fazerem sentido, ela escrevia mesmo assim, e de alguma forma aquelas palavras formavam contexto para ela e para alguns poucos. Talvez esses poucos se lembrem de mim, quando eu me for...
Quando eu me for, quero ser lembrada como a garota intensa que sentia demais. Sentia em excesso, absorvia os sentimentos em demasia. Mas também a garota que mantia a frieza e sabia deixar a cabeça no lugar.
Quando eu não mais existir, existirão ainda loucuras, mas gostaria que elas soubessem que perderam sua fonte principal de novas insanidades, mas que as loucuras que deixei nesse mundo continuem a ecoar.
Eu quero que se lembrem de mim como a garota que até deixou momentos passarem, mas quando viu que isso não valia à pena, resolveu aproveitar todos como se fossem os últimos: falou besteiras, faltou em compromissos, falou no momento errado, mas não deixou de sorrir.
Eu quero que se lembrem que eu sorri sempre. E que eu fui criticada por sorrir demais. Saibam que eu não tinha a ideologia de mudar todo o mundo para melhor com um sorriso, mas apenas o meu mundo. Eu sorri, eu gargalhei, eu chorei de rir, em todos os momentos que eu pude: eu sorri.
Eu quero que se lembrem que eu AMAVA conhecer, saber, ler. A ciência estava no meu sangue, assim como a literatura. Ciência e literatura talvez resumam bem uma parte significativa da minha essência.
Lembrem-se que eu amava olhar minha estante de livros e saber que li cada história daquelas... Eu amava saber que eu sabia anatomia, fisiologia, etc etc....
Quando eu morrer, ainda poderão me julgar por essas palavras, mas saibam que as profundezas da minha alma anseavam por dizer muito, muito, infinitamente mais. Eu sou/fui assim... feita de palavras... friáveis e sólidas, suaves e intensas... Eu sou/fui antíteses e paradoxos... No fim eu sei que fui muito mais do que sou capaz de escrever, e que sinto muito mais do que sou capaz de transparecer. Sou um livro eterno, escrito em runas, as quais ninguém foi capaz de decifrar. Eu sou... Eu... Sou...

sábado, 30 de julho de 2016

Do desejo de tangenciar este mundo


Andando pela rua, às vezes tenho a sensação de que minha mente se dissocia em duas: uma que me mantém na realidade e observa o que está acontecendo à minha volta. A outra, ah... essa outra... Ela viaja em infinitos mundos, ela é como a definição exata do anacronismo. Conseguiu um passaporte precioso para o reino dos sãos e dos loucos, para as profundezas do passado e as alturas do futuro. Por vezes ela encontra algumas coisas assustadoras, inventa histórias inacreditáveis, se lembra de detalhes esquecíveis (sim, esquecíveis mesmo). Essa metade da mente é a eterna incógnita a ser isolada numa equação. Mas ela não quer ser constante, quer ser variável, de tal forma que eu não posso isolá-la e definí-la. Uma pena... pois as vezes eu acho que poderia materializá-la.
Do desejo dessa mente de tangenciar por milésimos de segundo, uma porção desse mundo terreno, renasce novamente meu cantinho para escrever. Com cenas do cotidiano, cenas metafísicas, de reinos interiores e às vezes meio insanos.